Alguns
elementos devem ser ressaltados para explicar o acontecimento histórico
conhecido como a “Primeira Guerra Mundial” ou a “Grande Guerra”.
Primeiramente, para compreender o conflito é preciso analisar a conjuntura
política do período, ou seja, discutir a situação dos principais países da
Europa. Vale ressaltar que a rivalidade entre as grandes potências européias
atingiu seu auge nesse momento, culminando numa profunda transformação nas
relações de poder.
Na
interpretação do líder socialista Vladimir
Lênin, a Primeira Guerra Mundial significou o estabelecimento da fase
superior do capitalismo, ou seja, o
regime capitalista ganhou uma nova estruturação. E o nome dessa estruturação,
segundo Lênin é conhecida como Imperialismo.
Em outras palavras, a busca incessante por colônias, principalmente na África e
na Ásia, foi um dos fatores responsáveis pela eclosão do conflito. Países
desenvolvidos economicamente, como a Inglaterra, Franca, Alemanha, iniciaram
uma acirrada disputa pelas posses de colônias nos continentes fornecedores de
matéria-prima, fonte de riqueza e progresso financeiro.
No
inicio do século XX o cenário na Europa era tenso e marcado pelas intensas
rivalidades, principalmente entre a França e Alemanha, pois os franceses
perderam o território da Alsácia-Lorena
para os alemães. Tal região era disputada em decorrência da intensa produção de
carvão na região. O episódio feriu o orgulho dos franceses, culminando numa
rivalidade sem precedentes entre os dois países.
Além
disso, a ascensão da Alemanha no cenário de grande potência desagradou às
antigas nações poderosas do continente, pois provocou uma redefinição no
equilíbrio econômico e político do continente. Vale ressaltar que França e
Inglaterra não estavam interessadas em dividir suas colônias na África e na
Ásia. Devemos frisar que foi o período de sustentação do regime capitalista e,
com isso, o momento decisivo na busca por lucros e desenvolvimento por parte
dos países ricos.
No
que diz respeito ao lado Oriental, a Rússia alimentava grande descontentamento
em relação ao império Otomano, em decorrência da derrota sofrida na Guerra da Criméia, em 1856. Todavia, a
Rússia era um país marcado pela forte presença da produção agrícola e atraso no
setor industrial. Em outras palavras, era a nação menos desenvolvida entre as
grandes potencias. Além disso, o país era controlado por investidores
estrangeiros que descontrolavam a economia do país de uma forma significativa.
Todo
esse clima de rivalidade entre os países europeus foi agravado com a expansão
do fenômeno conhecido como ideologia
nacionalista. Esse fenômeno despertou o sentimento de amor patriótico
descontrolado por parte dos principais governantes europeus, que procuravam
despertar tal sentimento entre o povo. Em resumo, a grandeza e desenvolvimento
do Estado estavam acima de qualquer coisa.
Vale ressaltar
que no começo do século XX os países da Europa investiram pesadamente da
indústria bélica, ou seja, na produção de armamentos. Esse fator estimulou no
povo o sentimento de patriotismo e civilismo, onde o ideal de defesa da nação
estava acima de qualquer coisa. Contudo, devemos enfatizar que no princípio do
século XX os países europeus estavam em paz, embora fosse uma Paz Armada, uma vez que a produção de
armas e instrumentos destrutivos estava se desenvolvendo significativamente.
Diante
da presente conjuntura política, verificamos o estabelecimento de dois blocos
de países, que tinham o objetivo de ajudar-se mutuamente. A Alemanha formou o
bloco de países conhecido como Tríplice
Aliança na Europa Central ao aproximar-se do império Austro-Húngaro e ao
atrair o apoio da Itália. Por outro lado, tivemos a formação da Tríplice Entente, que unia a Rússia, a
França e a Inglaterra. Com isso, a guerra ganhou contornos definitivos,
faltando tão-somente o pretexto para o inicio dos conflitos.
O
pretexto para a guerra foi o assassinato do príncipe herdeiro do trono
Austro-Húngaro Francisco Ferdinando,
e de sua esposa em Sarajevo, capital da Bósnia. O assassinato foi cometido por
um nacionalista da Sérvia, pertencente ao grupo Mão negra. Ferdinando pretendia, ao assumir o trono, incorporar a
Sérvia ao grande império comandado pela monarquia dual (Áustria e Hungria).
Isso contrariava as pretensões dos sérvios em construir uma grande nação
independente.
Após
o assassinato, a Áustria declarou guerra aos sérvios, em 28 de julho de 1914,
dando início ao conflito. Com isso, a Rússia se posicionou em defesa dos
sérvios. Por outro lado, alegando solidariedade aos austríacos, os alemães anunciaram
a sua entrada na guerra contra os russos, e, dois dias depois fez o mesmo
contra os franceses. A Inglaterra, por sua vez, declarou guerra contra a
Alemanha, honrando a Tríplice Entente.
No
caso da Itália, seu compromisso era entrar na guerra somente se os alemães
fossem atacados. Por isso, os italianos participaram dos conflitos somente em
1915, quando mudou de lado, seduzidos por promessas dos ingleses de concessões
territoriais da Alemanha na África. A guerra generalizou-se quando o império otomano
declarou guerra aos russos, seus antigos inimigos, e aliou-se aos alemães.
As
potencias da Tríplice Aliança tiveram de combater em duas frentes de batalha,
no lado ocidental e oriental. Se por um lado, no que diz respeito à parte
ocidental, os alemães tiveram que travar as batalhas contra as forças militares
francesas, por outro, na banda Oriental, eles lutaram contra a Rússia na
tentativa de barrar seu avanço territorial. Contudo, vale ressalvar que os
ingleses intervieram a favor dos franceses na guerra, impedindo a vitória alemã
na região.
No
final de 1914, uma novidade se impôs nas frentes de batalha, a guerra de trincheiras. Elas foram
cavadas ao longo de centenas de quilômetros, cortando o continente europeu de
norte a sul. Dessa maneira, os franceses e alemães não conseguiram avançar,
permanecendo por mais de três anos em árduas e sangrentas batalhas.
“Por mais que usassem o poder de fogo da artilharia,
nenhum dos lados conseguia ultrapassar as trincheiras inimigas, o que
representou um dos maiores horrores da guerra. Sob sol e chuva, o bombardeio da
artilharia era incessante. Milhares de soldados passavam meses atirando contra
os inimigos, enfiados na terra, juntos com ratazanas e piolhos. A água e comida
eram racionadas. Muitas vezes sob ataque, eles não podiam retirar o cadáver dos
colegas e conviviam com os corpos em putrefação.” (VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila de Castro; FERREIRA, Jorge; SANTOS,
Georgina dos. História: O mundo por um fio: do século XX ao XXI. 1ª Ed Editora
Saraiva. São Paulo, 2010. Pág.65)
A
primeira guerra mundial também ficou caracterizada pelas inovações técnicas
empregadas nos conflitos. Foi a primeira vez que o avião foi utilizado como um instrumento de batalha. Os alemães
surpreenderam com a utilização de produtos químicos, como o gás mostarda, que provocavam graves
queimaduras. Além disso, a Alemanha também empregou os submarinos, que
afundavam os navios mercantes, principalmente os carregados com alimentos,
provocando sérios prejuízos à população civil.
É
importante ressaltar a participação dos EUA nos conflitos. Inicialmente, a
interferência norte-americana se restringia somente na venda de mercadorias aos
países envolvidos na guerra. Posteriormente, a imprensa começou a fazer forte
propaganda contra os alemães, pedindo a entrada dos EUA nas batalhas ao lado da
Tríplice Entente. Todavia, dois fatos importantes farão com que os
norte-americanos entrassem na guerra contra a Alemanha. Primeiramente ocorreu o afundamento do navio Lusitania, que
provocou grande indignação junto à opinião pública. Além disso, o telegrama
conhecido como “Zimmerman”, criado
pelos alemães, que propunha ao México uma aliança contra os norte-americanos e,
em caso de vitória, devolveria os Estados do Texas, do Arizona e Novo México ao
governo mexicano. Vale enfatizar que existia uma afinidade política e cultural
entre os EUA e a Inglaterra, além de interesses econômicos envolvidos na
questão.
Em
outubro de 1917, um novo acontecimento provocará novos contornos na guerra. Na
Rússia ocorre a revolução de caráter socialista, liderada pelos bolcheviques, que propunham
transformações radicais no país. Atendendo o apelo popular, os revolucionários
retiraram a Rússia da guerra. O custo dessa decisão foi grande, pois o governo
russo foi obrigado a ceder vários territórios à Alemanha. Com isso, os alemães
precisavam se concentrar apenas nas frentes de batalha no Ocidente.
Entretanto,
a participação dos EUA nos conflitos favoreceu aos franceses e ingleses. O
conflito tornou-se mundial. Ao lado desses países estava; Japão, Portugal,
Romênia, Grécia, China, Brasil, entre outros. Portanto, apesar das batalhas
terem ocorrido na Europa Central, vários países no mundo participaram de uma
maneira ou de outra.
Contudo,
vale enfatizar que ao longo do ano de 1917 as sociedades européias estavam
cansadas pelos esforços empreendidos ao longo de três anos de guerra. O
bloqueio naval francês e inglês, além dos submarinos alemães levou a fome aos
países. Além disso, o custo de vida aumentou e as mercadorias desapareceram.
Milhares de pessoas morreram de fome em todos os cantos do continente. Com
isso, um amplo movimento pacifista se espalhou pelo mundo pedindo o fim da
guerra.
“Embora o exército alemão tentasse uma
contraofensiva para alcançar Paris, acabou rechaçado, sem ter condições de
lutar. Enquanto na Alemanha a população conhecia a fome, Inglaterra e frança
recebiam ajuda material e militar dos EUA. Diante da derrota iminente, o novo
governo alemão assinou o armistício, sem condições, em 11 de novembro de 1918”. (VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila de
Castro; FERREIRA, Jorge; SANTOS, Georgina dos. História: O mundo por um fio: do
século XX ao XXI. 1ª Ed Editora Saraiva. São Paulo, 2010. Pag. 67)
Com isso, no dia 19 de janeiro de
1919, os diplomatas dos países envolvidos na guerra encontraram-se na Conferência de Paris, com o objetivo de
desmilitarizar a Alemanha e encontrar uma maneira de reparar os prejuízos
materiais causados pelos conflitos. O resultado foi o Tratado de Versalhes, que culpou os alemães pelas batalhas.
Partindo-se das resoluções desse tratado, a Alemanha foi obrigada a ceder a
Alsácia-Lorena à França, além de perder várias possessões territoriais
importantes para o desenvolvimento da sua economia. As imposições do tratado
incluíam a diminuição dos efetivos militares e a proibição de produzir
materiais bélicos.
As
conseqüências da guerra foram trágicas para as sociedades européias. Cerca de
10 milhões de pessoas morreram nos conflitos, entre civis e militares. Os
países desenvolvidos economicamente encontraram-se arruinados, principalmente a
Alemanha. A Inglaterra também saiu prejudicada do conflito, em decorrência das
perdas humanas e dos prejuízos financeiros. Em contrapartida, os EUA alcançaram
um desenvolvimento econômico significativo, já que sua participação no
conflito, durantes os três primeiros anos de guerra, foi apenas emprestar
dinheiro aos países da Tríplice Entente. Em outras palavras, os
norte-americanos lucraram com o conflito.
Por
fim, podemos ressaltar que a Primeira Guerra Mundial provocou uma redefinição
nas relações de poder no continente europeu. Além disso, as imposições
direcionadas à Alemanha culminaram no fortalecimento do sentimento de revanchismo entre o povo. Com isso, as
ideologias totalitárias ganharão um espaço substantivo na gestão interna da
Alemanha, como foi o caso no Nazismo.
Esses elementos serão importantes na fundamentação de uma nova guerra de
proporções nunca vistas antes, que abalará o mundo a partir da década de 1940.
“O campo de batalha é terrível. Há cheiro de azedo,
pesado e penetrante de cadáveres. Homens que foram mortos no último outubro
estão meio afundados no pântano e nos campo de nabo em crescimento (...) Um
pequeno veio de água corre através da trincheira, e todo mundo usa a água para
beber e se lavar: é a única água disponível. Ninguém se importa com o inglês
pálido que apodrece alguns passos adiante. No cemitério de Langermark os restos
de uma matança foram empilhados e os mortos ficaram acima do nível do chão. As
bombas alemães, caindo sobre o cemitério, provocam uma horrível ressurreição.”
(De um fatalista
na guerra, de Rudolf Binding, que serviu em uma das divisões da
Jungdeutschland.)
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