O livro “História do Ensino de História”,
de Thais Nivia de Lima e Fonseca, publicado no ano de 2003, pela editora
autêntica, procurou suscitar uma discussão acerca dos importantes elementos que
envolveram a trajetória do ensino de história no Brasil ao longo do tempo. Objetivou,
sobretudo, estabelecer uma reflexão sobre os pressupostos teórico-metodológicos
que auxiliaram no processo de formação e constituição da história como
disciplina escolar. Procurou encontrar os princípios norteadores que serviram
de alicerce para a materialização da história como disciplina acadêmica, ou
seja, como um conjunto de conhecimentos previamente sistematizados e empregados
com práticas valorativas pedagógicas peculiares.
No primeiro capítulo, a autora procurou
realizar uma análise com relação aos estudos concernentes à história da
educação, enfatizando a importante reformulação do pensamento historiográfico,
que buscou articular mecanismos característicos à história cultural com os
aspectos educacionais,
Ao longo de seu processo de constituição
como disciplina com programa curricular específico, a história foi marcada por
uma acentuada inclinação ora para elementos religiosos e políticos, ora para
correntes de pensamento filosófico. Num determinado período, a história foi
utilizada como uma ferramenta para atender a interesses particulares. Sem
contar que também foi empregada no sentido de fortalecer os sentimentos mais
profundos do Ser Humano. Ou seja, os conhecimentos historiográficos do sistema
educacional podem transformar radicalmente a realidade social, com seus
objetivos políticos, culturais e econômicos.
No segundo capítulo, a escritora
sintetizou alguns subsídios elementares que ajudam a perceber, de uma maneira
panorâmica, as produções historiográficas sobre o Ensino de História no Brasil.
Posteriormente, procurou esclarecer algumas questões relacionadas à metodologia
utilizada nas pesquisas. Discorreu sobre a necessidade de se ampliar o emprego
de outras fontes na elaboração de estudos com relação ao ensino de história
estabelecido no país. No final, a autora relatou a deficiência no tocante às
pesquisas sobre o ensino de história no período colonial brasileiro, ou melhor,
ao conjunto de saberes sistematizado de cunho histórico transmitidos pelos
jesuítas, uma vez que a história naquele período inexistia como uma disciplina
propriamente dita. Com isso, o império e o momento republicano foram
contemplados com uma significativa produção de pesquisas sobre o ensino de
história aplicado nesses períodos. Comentando que nos governos instituídos de
forma autoritária, houve uma vertiginosa ampliação do número de fontes,
consideradas indispensáveis para o decorrer das pesquisas; como jornais,
revistas, livros didáticos, documentação iconográfica, depoimentos orais,
dentre outras.
Enfim, tentou passar a idéia de que é
preciso aumentar as estratégias metodológicas, objetivando penetrar no universo
do cotidiano escolar, compreendendo dessa forma, os processos que envolvem as
práticas de ensino e aprendizagem. Mormente no campo da disciplina história,
entender quais os mecanismos que podem ser adotados pelo docente no sentido de
demonstrar aos discentes a verdadeira funcionalidade da disciplina história,
ressalvando a sua capacidade de desenvolver e produzir conhecimentos
epistemológicos fundamentos para a sociedade na qual estamos inseridos.
No terceiro capítulo, Thais aprofundou a
sua análise sobre a evolução da história ao longo de seu processo de
constituição como disciplina acadêmica. Objetivou esclarecer as práticas
pedagógicas adotadas pelos jesuítas no período colonial, enfatizando as
verdadeiras intenções dos inacianos. Nesse momento, inexistia uma história
fundamentada em preceitos de caráter historiográfico propriamente dito, mas sim
formada por conceitos disciplinadores, visando concretizar a formação moral e difundir
as virtudes cristãs. A finalidade dos missionários foi basicamente viabilizar a
subordinação dos colonos ao Estado metropolitano, Portugal; e também à
instituição eclesiástica, a Igreja Católica. Entretanto, os temas que mais se
aproximavam da disciplina história eram; Humanidades, Filosofia e Teologia,
onde eram empregados textos que possuíam uma fundamentação histórica, mas
emoldurados em princípios religiosos.
Já no período imperial, a história
adquiriu contornos como uma disciplina escolar com objetivos definidos. Houve a
necessidade de se encontrar mecanismos construtivos no âmbito de fortalecer o
regime político e social vigente. Também ocorreu nesse momento, uma nítida
preocupação com a construção de uma identidade nacional, efetivando o ideário
de soberania da Monarquia e do catolicismo. Para alcançar tais objetivos, a
história se tornou indispensável, uma vez que somente ela poderia resgatar a
origem da nação e dos elementos que a constituem.
Posteriormente, a autora direcionou a
sua análise para o período republicano, onde houve uma maior preocupação com os
pressupostos metodológicos empregados no ensino de história. Mas a finalidade
primordial foi articular elementos consubstanciados, no sentido de adequar o
cidadão à ordem política estabelecida. Buscou construir a imagem do Estado, que
seria transmitida aos alunos, através dos projetos educacionais, usando,
mormente, a disciplina história como uma importante ferramenta para a
concretização de tais intenções. Com isso houve profundas mudanças
metodológicas no ensino de história, que culminaram numa reformulação no
pensamento pedagógico e das praticas de ensino/aprendizagem.
A trajetória do Ensino de História do
Brasil sempre esteve marcada pela incessante conjunção de idéias por parte da classe
dominante, no sentido de perpetuar ou até mesmo ampliar os seus privilégios. Em
outras palavras as proposições pedagógicas implantadas no currículo escolar
procuraram, sobretudo, atender alguns interesses particulares. Isso implicou em
sérios problemas no processo de formação discente, pois o seu desenvolvimento
crítico e sua capacidade intelectual sofrem uma lastimável degradação.
Resultando num posicionamento passivo e submisso desse discente perante a
realidade sócio –política na qual esta atuando.
A autora conclui o capitulo discorrendo
acerca das importantes reformulações pelas quais o ensino de história passou na
década de 80 do século XX. Essas reformulações resultarão numa profunda
avaliação crítica dos programas curriculares, das praticas pedagógicas, do
relacionamento docente/discente, dos preceitos adotados no processo de ensino e
aprendizagem, que caracterizaram o sistema educacional, mas especificamente o
ensino de história no Brasil.
Entretanto, é importante ressaltar um
ponto não abordado pela Thais, no tocante a essas mudanças no pensamento
historiográfico corridas a partir dos anos 80. A base dessas mudanças foi
efetivada através dos clássicos da década de 30, que foram desprestigiadas
pelos historiadores das décadas de 50, 60 e 70. Como exemplo, podemos citar o
próprio Gilberto Freyre, estigmatizado inclusive pelos historiadores marxistas,
mas que foi de substancial importância para as transformações materializadas no
campo historiográfico, provocando consequentemente modificações metodológicas e
de práticas pedagógicas no ensino de história.
No último capítulo, a autora discuti uma
temática específica, a questão da escravidão, e como esse tema é retratado nos
livros didáticos. Os pressupostos conceituais que envolvem essa questão estão
impregnados de concepções historiográficas tradicionais, apresentando o negro
escravo, de uma forma geral, totalmente submisso ao seu senhor e desprovido de outras
formas de resistência além da formação de quilombos.
Enfim, as proposições contidas na
argumentação da escritora, induzem o leitor a refletir sobre a necessidade do
docente em conhecer, de uma forma aprofundada, a história da disciplina que
leciona. Criando, dessa maneira, um conjunto de métodos e práticas pedagógicas,
que lhe possibilitará desenvolver, mais produtivamente, a capacidade de
raciocínio crítico dos discentes.
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