domingo, 17 de junho de 2012

História do Ensino de História

    
        O livro “História do Ensino de História”, de Thais Nivia de Lima e Fonseca, publicado no ano de 2003, pela editora autêntica, procurou suscitar uma discussão acerca dos importantes elementos que envolveram a trajetória do ensino de história no Brasil ao longo do tempo. Objetivou, sobretudo, estabelecer uma reflexão sobre os pressupostos teórico-metodológicos que auxiliaram no processo de formação e constituição da história como disciplina escolar. Procurou encontrar os princípios norteadores que serviram de alicerce para a materialização da história como disciplina acadêmica, ou seja, como um conjunto de conhecimentos previamente sistematizados e empregados com práticas valorativas pedagógicas peculiares.

        No primeiro capítulo, a autora procurou realizar uma análise com relação aos estudos concernentes à história da educação, enfatizando a importante reformulação do pensamento historiográfico, que buscou articular mecanismos característicos à história cultural com os aspectos educacionais,
        Ao longo de seu processo de constituição como disciplina com programa curricular específico, a história foi marcada por uma acentuada inclinação ora para elementos religiosos e políticos, ora para correntes de pensamento filosófico. Num determinado período, a história foi utilizada como uma ferramenta para atender a interesses particulares. Sem contar que também foi empregada no sentido de fortalecer os sentimentos mais profundos do Ser Humano. Ou seja, os conhecimentos historiográficos do sistema educacional podem transformar radicalmente a realidade social, com seus objetivos políticos, culturais e econômicos.
        No segundo capítulo, a escritora sintetizou alguns subsídios elementares que ajudam a perceber, de uma maneira panorâmica, as produções historiográficas sobre o Ensino de História no Brasil. Posteriormente, procurou esclarecer algumas questões relacionadas à metodologia utilizada nas pesquisas. Discorreu sobre a necessidade de se ampliar o emprego de outras fontes na elaboração de estudos com relação ao ensino de história estabelecido no país. No final, a autora relatou a deficiência no tocante às pesquisas sobre o ensino de história no período colonial brasileiro, ou melhor, ao conjunto de saberes sistematizado de cunho histórico transmitidos pelos jesuítas, uma vez que a história naquele período inexistia como uma disciplina propriamente dita. Com isso, o império e o momento republicano foram contemplados com uma significativa produção de pesquisas sobre o ensino de história aplicado nesses períodos. Comentando que nos governos instituídos de forma autoritária, houve uma vertiginosa ampliação do número de fontes, consideradas indispensáveis para o decorrer das pesquisas; como jornais, revistas, livros didáticos, documentação iconográfica, depoimentos orais, dentre outras.
        Enfim, tentou passar a idéia de que é preciso aumentar as estratégias metodológicas, objetivando penetrar no universo do cotidiano escolar, compreendendo dessa forma, os processos que envolvem as práticas de ensino e aprendizagem. Mormente no campo da disciplina história, entender quais os mecanismos que podem ser adotados pelo docente no sentido de demonstrar aos discentes a verdadeira funcionalidade da disciplina história, ressalvando a sua capacidade de desenvolver e produzir conhecimentos epistemológicos fundamentos para a sociedade na qual estamos inseridos.
        No terceiro capítulo, Thais aprofundou a sua análise sobre a evolução da história ao longo de seu processo de constituição como disciplina acadêmica. Objetivou esclarecer as práticas pedagógicas adotadas pelos jesuítas no período colonial, enfatizando as verdadeiras intenções dos inacianos. Nesse momento, inexistia uma história fundamentada em preceitos de caráter historiográfico propriamente dito, mas sim formada por conceitos disciplinadores, visando concretizar a formação moral e difundir as virtudes cristãs. A finalidade dos missionários foi basicamente viabilizar a subordinação dos colonos ao Estado metropolitano, Portugal; e também à instituição eclesiástica, a Igreja Católica. Entretanto, os temas que mais se aproximavam da disciplina história eram; Humanidades, Filosofia e Teologia, onde eram empregados textos que possuíam uma fundamentação histórica, mas emoldurados em princípios religiosos.
        Já no período imperial, a história adquiriu contornos como uma disciplina escolar com objetivos definidos. Houve a necessidade de se encontrar mecanismos construtivos no âmbito de fortalecer o regime político e social vigente. Também ocorreu nesse momento, uma nítida preocupação com a construção de uma identidade nacional, efetivando o ideário de soberania da Monarquia e do catolicismo. Para alcançar tais objetivos, a história se tornou indispensável, uma vez que somente ela poderia resgatar a origem da nação e dos elementos que a constituem.
        Posteriormente, a autora direcionou a sua análise para o período republicano, onde houve uma maior preocupação com os pressupostos metodológicos empregados no ensino de história. Mas a finalidade primordial foi articular elementos consubstanciados, no sentido de adequar o cidadão à ordem política estabelecida. Buscou construir a imagem do Estado, que seria transmitida aos alunos, através dos projetos educacionais, usando, mormente, a disciplina história como uma importante ferramenta para a concretização de tais intenções. Com isso houve profundas mudanças metodológicas no ensino de história, que culminaram numa reformulação no pensamento pedagógico e das praticas de ensino/aprendizagem.
        A trajetória do Ensino de História do Brasil sempre esteve marcada pela incessante conjunção de idéias por parte da classe dominante, no sentido de perpetuar ou até mesmo ampliar os seus privilégios. Em outras palavras as proposições pedagógicas implantadas no currículo escolar procuraram, sobretudo, atender alguns interesses particulares. Isso implicou em sérios problemas no processo de formação discente, pois o seu desenvolvimento crítico e sua capacidade intelectual sofrem uma lastimável degradação. Resultando num posicionamento passivo e submisso desse discente perante a realidade sócio –política na qual esta atuando.
        A autora conclui o capitulo discorrendo acerca das importantes reformulações pelas quais o ensino de história passou na década de 80 do século XX. Essas reformulações resultarão numa profunda avaliação crítica dos programas curriculares, das praticas pedagógicas, do relacionamento docente/discente, dos preceitos adotados no processo de ensino e aprendizagem, que caracterizaram o sistema educacional, mas especificamente o ensino de história no Brasil.
        Entretanto, é importante ressaltar um ponto não abordado pela Thais, no tocante a essas mudanças no pensamento historiográfico corridas a partir dos anos 80. A base dessas mudanças foi efetivada através dos clássicos da década de 30, que foram desprestigiadas pelos historiadores das décadas de 50, 60 e 70. Como exemplo, podemos citar o próprio Gilberto Freyre, estigmatizado inclusive pelos historiadores marxistas, mas que foi de substancial importância para as transformações materializadas no campo historiográfico, provocando consequentemente modificações metodológicas e de práticas pedagógicas no ensino de história.
        No último capítulo, a autora discuti uma temática específica, a questão da escravidão, e como esse tema é retratado nos livros didáticos. Os pressupostos conceituais que envolvem essa questão estão impregnados de concepções historiográficas tradicionais, apresentando o negro escravo, de uma forma geral, totalmente submisso ao seu senhor e desprovido de outras formas de resistência além da formação de quilombos.
        Enfim, as proposições contidas na argumentação da escritora, induzem o leitor a refletir sobre a necessidade do docente em conhecer, de uma forma aprofundada, a história da disciplina que leciona. Criando, dessa maneira, um conjunto de métodos e práticas pedagógicas, que lhe possibilitará desenvolver, mais produtivamente, a capacidade de raciocínio crítico dos discentes.        
               
 

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